De novo nos jardins do Palácio de Cristal, o certame terá o filósofo e ensaísta como figura tutelar e inspirador das muitas iniciativas paralelas concebidas para decorrerem entre 6 e 22 de setembro
Na Avenida das Tílias, nos jardins do Palácio de Cristal, será em breve colocada mais uma tília simbólica, agora com o nome de Eduardo Lourenço, como antes já foram colocada outras destinadas a homenagear Vasco Graça Moura, Agustina Bessa Luís, Mário Cláudio ou Sophia de Mello Breyner Andersen. Eduardo Lourenço passa a integrar aquela espécie de panteão que ao longo dos anos tem vindo a ser construído pela Câmara do Porto na sequência da opção por um modelo de feira muito centrado na reflexão e no pensamento, bem como nos escritores, e não tanto nas grandes editoras.
Com programação a cargo de Nuno Artur Silva, a próxima edição da Feira do Livro do Porto vai dar um espaço privilegiado aos debates, lições, filmes e encontros com escritores. A sessão de abertura, marcada para as 18h de 7 de setembro, será preenchida com a homenagem a Eduardo Lourenço. Lídia Jorge e Nuno Artur Silva conversam com o jornalista Carlos Magno sobre o homem que ao longo dos anos questionou e equacionando a identidade e a imagem do povo português. A fechar, já a 22 de setembro, de novo o filósofo e ensaísta em destaque. Maria Filomena Molder terá a seu cargo uma lição subordinada ao tema “Eduardo Lourenço. Variações sobre a voz que ensaia”. Pelo meio há ainda a exibição de “O Labirinto da Saudade”, de Miguel Gonçalves Mendes, que, com Pilar del Rio, estará presente numa apresentação do filme, antecedida de um pequeno concerto de Noiserv, autor da banda sonora.
Como referiu Nuno Artur Silva durante a conferência de imprensa de apresentação da feira efetuada na manhã desta terça-feira, o italiano Roberto Francavilla, professor e tradutor de língua portuguesa, que de alguma forma tem tomado o lugar deixado vago por Antonio Tabucchi, apresentará um olhar de Portugal a partir do estrangeiro. As possibilidade de futuro para a Europa, num tempo de populismos, de migrações de refugiados, de surgimento de movimentos autoritários, antidemocráticos e xenófobos, serão debatidas com Viriato Soromenho Marques, Miguel Poiares Maduro e Bernardo Pires de Lima.
É uma sessão que se pode ligar a uma outra, conduzida por Boaventura Sousa Santos, quando pergunta se “Estamos num período de globalização ou desglobalização”.
Surpreendente poderá ser o encontro com Arnaldo Antunes, poeta e ativista brasileiro, entre nós também conhecido pela sua participação nos grupos “Titãs” e “Os Tribalistas”, neste caso com Marisa Monte e Carlinhos Brown. Poeta, artista visual e sempre com muita disponibilidade para intervir na sociedade, Arnaldo Antunes lerá poemas seus e ficará à conversa com Nuno Artur Silva sobre a arte e o compromisso social e político do artista. Ao debate não será alheia a atual situação política e social do Brasil, embora não se esgote aí a dimensão da intervenção de Arnaldo Antunes.
O programa da feira inclui uma série de Lições, como a de Eduardo Pitta, que quer saber se a literatura portuguesa continua no armário, ou a de Jorge Vaz de Carvalho, que se propõe falar de Jorge de Sena como “a mais fecunda e original das personalidades intelectuais e literárias do século XX português, a par de Fernando Pessoa”. Carlos Fiolhais falará de Leonardo da Vinci e o triângulo virtuoso entre arte, técnica e ciência,
A par de uma sessão especial das já célebres “Quintas de leitura”, intitulada “Delírio Manso”, está programado um ciclo de cinema, com filmes de Theo Angelopoulos (“A eternidade e um dia”), Ken Russel (“Os Diabos”), Göran Olsson (“Sobre a violência”), Michael Haneke (“Nada a esconder”) e Margarette von trotta (“Anos de Chumbo”).
Os 50 anos de vida literária de Mário Cláudio serão pretexto para uma retrospetiva sobre a vida e a obra do escritor, a cargo de Martinho Soares e Ana Paulo Arnaut.
A Feira contará com 130 pavilhões, nos quais estarão representadas 46 editoras, 10 livrarias, 21 alfarrabistas e cinco distribuidoras.
Valdemar Cruz in expresso